[f i l m e s d o c h i c o]

30 de jan. de 2005

SOFT PORN SEM SEXO E SEM APPEAL

Novo filme de Mike Nichols nem fode nem sai de cima



Amor, sexo, desejo, traição. Com temas assim, as possibilidades são muitas na hora de fazer um filme. Mas o veterano Mike Nichols, bem longe de seus áureos tempos de A Primeira Noite de um Homem (67), um dos melhores filmes da década de sessenta, preferiu o blá-blá-blá. A adaptação da peça de Patrick Marber para o cinema aposta na qualidade do texto original e na desenvoltura dos atores para interpretá-lo. Isso já havia dado certo com o próprio Nichols, em seu filme de estréia, Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (66), mas não se repetiu na nova investida do diretor.

A primeira questão a se discutir é justamente a base de todo o filme, o texto. Na ânsia de causar impacto com os temas já citados aqui, Marber apelou para lugares comuns como os diálogos com respostas rápidas e engraçadinhas ou a aparentemente ousada decisão de verbalizar nomes chulos para órgãos, personas e ações sexuais ou palavrões. Ousada talvez somente na terra que reelegeu o vaqueiro como presidente. Num país sexualizado como o Brasil - e isso não é uma crítica, o texto de Marber tem alguma graça. Pouca.

Outro problema fundamental: diferentemente do primeiro filme do cineasta, os atores aqui - todos bons atores, por sinal - nunca são grandes atores, sequer têm grandes momentos. Julia Roberts, que merece crédito por aceitar falar sacanagem no cinema, não é Elizabeth Taylor, e Jude Law não consegue encontrar o equilíbrio entre o jocoso e o patético. É o pior na tela. As tão aclamadas performances de Natalie Portman, alçada à merecida condição de ninfeta da vez, e Clive Owen não passam do correto.

Portman é a melhor do quarteto, mas sua personagem enfraquece pela falta de definição. Owen tenta fazer o grandalhão alucinado e obsessivo, mas esbarra em suas limitações como ator e no texto, ruim, que lhe deram para decorar. A cena de sexo virtual é curiosa, mas o fotógrafo Stephen Goldblatt deve ter dormido por ali já que a seqüência, como quase todo o filme, não parece cinema, mas teatro. No único momento em que Nichols resolve fazer cinema de verdade, Natalie Portman aparece em toda sua beleza. Pouco para um filme inteiro, onde a direção se acomodou (ou se acovardou) na adaptação da linguagem do texto original, resumindo a tradução à reprodução. E isso é quase nada quando o texto é ruim como aqui.

CLOSER - PERTO DEMAIS
Closer, Estados Unidos, 2004.
Direção: Mike Nichols.
Roteiro: Patrick Marber, baseado em sua peça.
Elenco: Julia Roberts, Jude Law, Natalie Portman e Clive Owen.
Fotografia: Stephen Goldblatt. Montagem: John Bloom e Antonia Van Driemelen. Direção de Arte: Tim Hatley. Figurinos: Ann Roth. Produção: Cary Brokaw, John Calley, Mike Nichols, Scott Rudin e Robert Fox. Site Oficial: www.sonypictures.com/movies/closer..

rodapé:

Sem tempo, sem saco e sem filmes para escrever sobre. Isso fora o Alfred, que me ocupou bastante neste mês. Mas agora vou tentar regularizar esse blogue. Ah, continua impressionante a habilidade nula das distribuidoras com a versão brasileira para os títulos de filmes. Closer ganhou um completamente desnecessário

nas picapes: Play with Fire, de The Rolling Stones.

13 de jan. de 2005



indicados
Alfred 2004
segunda-feira, 21h
ao vivo
on line
no www.ligadosblogues.blogspot.com.

10 de jan. de 2005

A MALDIÇÃO DO PRIMEIRO FILME

Ou: três cineastas brasileiros e a vontade de ser Orson Welles

Pois bem, vejam só: o cara tinha 25 anos e já era um revolucionário. Fez polêmica no teatro, fez a ficção invadir as casas das pessoas no rádio e, por fim, migrou para o cinema para redefinir tudo. Boa parte dos cineastas dos anos 60 para cá devem amaldiçoar a figura do diretor de Cidadão Kane (EUA, 41). Depois que o longa, a estréia do geniozinho, começou a encabeçar as listas de melhores filmes da história, a cobrança pelo primeiro trabalho em celulóide (ou digital ou o que quer que seja) é cada vez maior.

No Brasil, há o agravante do ranço histórico deixado pela cinema novo: a necessidade de posicionamento social do cineasta. O autor precisa ser engajado. É isso que tentam três novos diretores brasileiros, que fizeram suas estréias em longa-metragem em 2004. Roberto Moreira, Heitor Dhalia e Alexandre Stockler tentam ser definitivos, explorando, sobretudo, a miséria e a falta de perspectivas do país em que vivem.



O exemplo mais perfeito é o de Amarelo Manga, onde o pernambucano Cláudio Assis, sob a égide da denúncia, propõe abrir as entranhas da "sociedade burguesa, porca e capitalista", mas se cristaliza como propaganda para o diretor. Neste sentido, Contra Todos, do professor da USP Roberto Moreira, bebe da mesma fonte. Tem o que se pode chamar de espírito universitário, aquela vontade maior que tudo de ser revolucionário, de revelar, de se revoltar contra a mediocridade do mundo de hoje.

E Moreira vai mais além. Enquanto o filme de Assis ainda tem méritos enquanto cinema, enquanto filmagem, enquanto criação, Contra Todos se pretende realista, urbano, verdadeiro. E para isso se prende a uma das mais furadas táticas dos últimos tempos: a câmera na mão virou uma maldição. E a de Moreira é uma câmera digital, mais, digamos, livre de filtros, seca, dura, naturalista, tosca. O retrato de uma família que vive na periferia paulista vira espetáculo de estripulias visuais rasteiras de menino revoltado. Parece gratuito quase o tempo todo. Não fosse os desempenhos dos atores (salvo o fraquíssimo, fraquíssimo, fraquíssimo protagonista) seria quase nulo. E a falta de foco, a falta de objetivo é o que mais impressiona. O filme é sobre nada ou o diretor acredita que a vida à margem das grandes cidades é nada.



Heitor Dhalia, diretor de Nina, tem uma visão parecida sobre quem vive no coração das metrópoles: a falta de propósito é regra para a motivação dos personagens. E no filme o que não falta é personagem. Os coadjuvantes da protagonista são tantos que você não consegue entender muito bem qual o motivo de eles estarem lá, além de vender o filme com as participações de atores globais. A intervenção de Matheus Natchergaele e Lázaro Ramos é risível. A de Guilherme Weber, latindo para a porta, não funciona.

Além disso, Nina é um filme de plástico. Não tem nenhum sabor. Histriônica e com uma expressão só (veja a foto), Guta Stresser, a chatinha do seriado A Grande Família, se perde no limbo dos personagens alternativos. Moderninha, não faz nada na vida e não faz nada para mudar isso, posa de sofredora dos abusos da dona do apartamento onde aluga um quarto, vivida pela boa Miriam Muniz, que morreu recentemente. Tudo no filme é construído para impressionar: a fotografia usa filtros demais, a montagem tenta significar demais (e não consegue), a cenografia é artificial demais. Nada funciona muito enquanto reforço dramático, já que a adaptação livre de Crime e Castigo, de Dostoiévski, não passa de pesadelo light de neuróticos da grande cidade. Sobra somente o inegável talento do desenhista Lourenço Mutarelli, única grande sacada do filme.



E há Cama de Gato. Alexandre Stockler cometeu o filme mais equivocado dos últimos tempos no cinema brasileiro. Um filme digno de estudante secundarista que ganhou uma câmera digital do papai riquinho. Rodado com a única intenção de dizer que tudo não presta e que o jovem da classe média brasileira é um acéfalo, se apóia numa história pobre repleta de situações absurdas, travestidas de pequenas revoluções tipo "cada um faz a sua parte". Um desserviço para o cinema do Brasil e, ouso arriscar, para o Brasil.

O golpe da criação do T.R.A.U.M.A., inspirado na fracassada tentativa do Dogma 95, nem merece ter a sigla desvendada. È uma armadilha que não captura nem pombo lerdo. A construção dramática do texto é uma piada sem graça. Para justificar suas idéias preconceituosas sobre a geração perdida dos jovens brasileiros (nesse ponto, Stockler se aproxima em perigosa velocidade de Larry Clark), o filme é aberto e encerrado com sonoras coletadas nas ruas de São Paulo. Para o diretor, a imbecilidade é regra, o mundo não tem mais jeito e, a única saída é faturar em cima da pobreza de idéias que emerge como pobreza de criação. O pior filme do mundo.

CONTRA TODOS
Contra Todos, Brasil, 2004.
Direção e Roteiro: Roberto Moreira.
Elenco: Leona Cavalli, Silvia Lourenço, Ailton Graça, Giulio Lopes, Martha Meola, Dionísio Neto, Gustavo Machado, Paula Pretta, Ismael de Araujo, Laís Marques, Waterloo Gregório, Fernando Petelinkar, Alessandro Azevedo.
Fotografia: Adrian Cooper. Montagem: Mirella Martinelli. Música: Livio Tragtenberg. Direção de Arte e Figurinos: Marjorie Gueller e Joana Porto. Produção: Fernando Meirelles, Roberto Moreira, Geórgia Costa Araújo, Andrea Barata Ribeiro e Bel Berlinck.

NINA
Nina, Brasil, 2004.
Direção: Heitor Dhalia.
Roteiro: Marçal Aquino.
Elenco: Guta Stresser, Miriam Muniz, Sabrina Greve, Wagner Moura, Matheus Natchergaele, Lázarmo Ramos, Renata Sorrah, Luiza Mariani, Juliana Galdino, Milhem Cortaz, Guilherme Weber, Abrahão Farc, Selton Mello, Anderson Faganello, Ailton Graça.
Fotografia: José Roberto Eliezer. Montagem: Estevan Santos. Direção de Arte: Akira Goto e Guta Carvalho. Música: Antonio Pinto. Figurinos: Juliana Prysthon e Veronica Julian. Animação: Lourenço Mutarelli.

CAMA DE GATO
Cama de Gato, Brasil, 2002.
Direção, Produção e Roteiro: Alexandre Stockler.
Elenco: Caio Blat, Rodrigo Bolzan, Cainan Baladez, Rennata Airoldi, Val Pires, Claudia Schapira, Nany People, Alexandra Golik, Bárbara Paz, Cabeto Rocker, Carla Trombini, Élcio Rodrigues, Jairo Mattos, Janaína Kan, Lavínia Pannunzio, Luís Araújo.
Fotografia: Murilo Azevedo e Charly Spinelli. Montagem: Doca Corbett. Direção de Arte: Sauto. Música: ?. Figurinos: Trauma. Site Oficial: www.trauma.art.br..

nas picapes: Cotidiano, de Marcelinho da Lua com Seu Jorge.

6 de jan. de 2005

FILMES DO CHICO: TOP 20 2004

1 Elefante, de Gus Van Sant
2 O Pântano, de Lucrecia Martel
3 Kill Bill: Vol. 1, de Quentin Tarantino
4 Homem-Aranha 2, de Sam Raimi
5 O Prisioneiro da Grade de Ferro, de Paulo Sacramento
6 Filme de Amor, de Júlio Bressane
7 Whisky, de Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll
8 Encontros e Desencontros, de Sofia Coppola
9 Lado Selvagem, de Sébastien Lifshitz
10 Escola de Rock, de Richard Linklater
11 Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, de Michael Gondry
12 Swimming Pool, de François Ozon
13 Dogville, de Lars Von Trier
14 Ser e Ter, de Nicolas Philibert
15 Meninos de Deus, de Peter Care
16 Hellboy, de Guillermo Del Toro
17 O Retorno, de Andrei Zvyagintsev
18 Mestre dos Mares: o Lado Distante do Mundo, de Peter Weir
19 Madrugada dos Mortos, de Zack Snyder
20 Os Incríveis, de Brad Bird


 
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